O técnico português Abel Ferreira, de 45 anos, chorou ao fim da coletiva de imprensa na madrugada de 31 de outubro de 2025, após ver seu time, o Palmeiras Futebol Clube, realizar a maior virada da história da Copa Libertadores da AméricaAllianz Parque — uma goleada de 4 a 0 sobre a Liga Deportiva Universitaria de Quito, revertendo uma desvantagem de 3 a 0 na ida. O jogo, disputado às 21h30 (horário de Brasília) no estádio paulista, foi marcado por gols de Ramón Sosa, Fuchs e dois de Raphael Veiga, incluindo um pênalti decisivo. Mas o que ficou na memória não foi apenas o placar. Foi a dor na voz de Ferreira, a incerteza sobre seu futuro e o abraço inesperado da presidente do clube.
"Não vou continuar se não houver condições de assinar"
Durante a transmissão ao vivo pela
Voz do Esporte no YouTube, Ferreira, nascido em Albufeira, Portugal, não escondeu o cansaço emocional. "É um alívio. Ainda não consigo desfrutar das vitórias. Família para mim é tudo. Chorei e estou a chorar agora", disse, com a voz trêmula. Mas o que mais chocou foi o que veio depois: "Eu disse a Leila: 'Não vale assinar, porque não vou continuar se não houver condições de assinar'. Há clubes que me ligam de todos os lados. É duro estar no Brasil. Não pelo clube. Mas porque vocês jornalistas são exigentes, duros, alguns passam do ponto, e às vezes questiono a mim mesmo se é isso o que quero".
Seu contrato atual expira em
31 de dezembro de 2025. Uma proposta de renovação até 2027, com aumento salarial e autonomia na estrutura de compra de jogadores, repousa em sua mesa — sem assinatura. A pressão da mídia brasileira, que o criticou após a derrota por 3 a 0 em Quito, parece ter pesado mais do que qualquer oferta externa. "Você é cobrado como se fosse um deus. Mas você é humano. E às vezes, humano demais para esse lugar", completou, olhando para o chão.
Leila Pereira interrompe e consagra o técnico
Ferreira não terminou a frase. A presidente do Palmeiras,
Leila Pereira, entrou na sala, ainda de terno e gravata, e o abraçou com força. "Você é o maior técnico da história do Palmeiras. Absolutamente, sem dúvida nenhuma", declarou, diante de mais de 50 jornalistas em silêncio. A cena, filmada por celulares, viralizou em minutos. Leila, que assumiu a presidência em janeiro de 2021, não é de discursos emocionais. Mas naquela noite, o peso da história falou mais alto que o protocolo.
O Palmeiras, fundado em
26 de agosto de 1914 em São Paulo, nunca teve um treinador que conquistasse duas Libertadores consecutivas — e Ferreira é o único a chegar a duas finais em cinco anos. Em 2020, venceu o
River Plate. Em 2021, superou o
Flamengo. Agora, ele vai enfrentar o mesmo adversário novamente — e pela terceira vez em quatro finais.
Virada sem precedentes e a pressão da altitude
A virada do Palmeiras é a primeira na história da Libertadores em que um time superou uma desvantagem de três gols em semifinal. Ninguém havia feito isso desde a criação da competição, em 1960. O feito é ainda mais impressionante considerando o contexto: em Quito, cidade a
2.850 metros de altitude, o Palmeiras foi derrotado por 3 a 0 em condições quase impossíveis. A LDU, fundada em
19 de setembro de 1930, jogou com o apoio da torcida local e o fator altitude — algo que muitos já consideravam decisivo.
Mas Ferreira, calmo como sempre, não se desesperou. "90 minutos no Allianz Parque é muito tempo", disse após a derrota. A frase, que parecia otimismo exagerado na época, virou profecia. Ele mudou o sistema tático, tirou um volante, colocou Sosa como falso 9, e liberou Veiga para atacar. O resultado? Uma exibição de controle, raça e inteligência.
O jornal português
A Bola chamou o feito de "épico" e "monumental". Já o argentino
La Nación escreveu: "A premonição de Abel Ferreira se concretizou. O Palmeiras não venceu por acaso. Venceu por convicção".
Tensão com a torcida: o que não foi dito
Ferreira admitiu mágoa com a torcida, mas não especificou os motivos. Há rumores de que torcedores teriam criticado publicamente sua postura após a derrota em Quito, com gritos de "fora Abel" e até banners ofensivos. O clube, que tem sede na
Avenida Palestra Itália, 55, no Barra Funda, já teve momentos de tensão com técnicos estrangeiros no passado — mas nunca com alguém que venceu tanto.
A relação entre o treinador e os torcedores sempre foi complexa. Ele é visto como um estrategista frio, distante, sem o carisma de um Dunga ou de um Cuca. Mas, nos bastidores, é respeitado por sua disciplina, sua capacidade de desenvolver jogadores e sua fidelidade ao modelo de jogo. "Ele não é o técnico que você abraça. É o técnico que você precisa para ganhar", disse um ex-jogador do clube, sob anonimato.
Final contra o Flamengo: reedição de um clássico moderno
A decisão da Libertadores será em
29 de novembro de 2025, às
21h (horário de Lima), no
Estádio Monumental 'U', na capital peruana. É a terceira final entre Palmeiras e Flamengo em menos de cinco anos — e a quarta vez que um clube brasileiro enfrenta outro na decisão desde 2020. O Flamengo, fundado em
17 de novembro de 1895, vem de uma campanha impressionante, com vitórias sobre o River Plate e o Atlético Nacional.
Se o Palmeiras vencer, será o primeiro clube brasileiro a conquistar três Libertadores em 15 anos. E Ferreira será o primeiro técnico estrangeiro a vencer a competição duas vezes com o mesmo time. Mas será que ele ainda estará no comando?
O que vem depois da glória
A vitória em São Paulo foi um marco. Mas o que vem depois é mais incerto. Ferreira não é um técnico que se rende a festas. Ele quer estrutura, respeito, liberdade. E, por enquanto, parece que não tem certeza se o Brasil ainda lhe dá isso. "Eu amo o futebol. Mas não sei se amo isso aqui", disse, em um dos momentos mais crua da entrevista.
A presidente Leila Pereira prometeu uma reunião urgente com a diretoria. Mas, até lá, o mundo espera. Porque, se Ferreira for embora, o Palmeiras perde mais que um técnico. Perde a alma de uma era.
Frequently Asked Questions
Por que Abel Ferreira está hesitante em renovar seu contrato com o Palmeiras?
Ferreira citou a pressão excessiva da imprensa brasileira como principal obstáculo, afirmando que jornalistas "passam do ponto" e o fazem questionar se quer continuar no Brasil. Ele também quer mais autonomia na contratação de jogadores e condições claras para montar seu projeto — algo que ainda não foi formalizado, apesar da proposta de renovação até 2027 estar na mesa.
Qual é a importância histórica da virada do Palmeiras contra a LDU Quito?
É a primeira vez na história da Copa Libertadores, desde 1960, que um time reverte uma desvantagem de três gols em semifinal. O Palmeiras foi derrotado por 3 a 0 em Quito, a 2.850 metros de altitude, e venceu por 4 a 0 no Allianz Parque, a apenas 760 metros. O feito supera até a famosa virada do Barcelona sobre o PSG em 2017, pois ocorreu em uma competição continental mais antiga e com menos recursos de análise técnica.
Por que o confronto contra o Flamengo na final é tão significativo?
É a terceira final entre Palmeiras e Flamengo em cinco anos — um recorde absoluto entre dois clubes brasileiros. Em 2020, o Palmeiras venceu o River Plate; em 2021, superou o Flamengo por 2 a 1. Agora, o Flamengo busca redenção, enquanto o Palmeiras tenta se tornar o primeiro clube brasileiro a conquistar três Libertadores em 15 anos — e Ferreira, o primeiro técnico estrangeiro a vencer duas vezes com o mesmo time.
Como a imprensa internacional viu a atuação de Abel Ferreira?
Jornais como o português A Bola e o argentino La Nación elogiaram sua calma estratégica e sua capacidade de transformar crise em vitória. A Bola chamou o feito de "épico", enquanto La Nación afirmou que a vitória foi "a premonição de Abel Ferreira". Muitos analistas apontam que ele é o técnico mais inteligente da América do Sul atualmente, mesmo sem o carisma dos grandes nomes locais.
O que pode acontecer se Abel Ferreira não renovar com o Palmeiras?
Se Ferreira sair, o Palmeiras perderá não só o técnico, mas o arquiteto de uma era de conquistas. A diretoria terá que escolher entre um técnico de perfil similar — como o atual treinador do Flamengo, ou um nome mais carismático, como o de Rogério Ceni — mas nenhum deles tem o histórico de títulos e estabilidade que ele traz. A ausência dele pode abrir um vazio técnico e emocional que levará anos para ser preenchido.
O que a torcida do Palmeiras pode fazer para tentar manter Abel Ferreira?
A torcida precisa transformar a crítica em apoio concreto. Nos últimos anos, críticas públicas, banners ofensivos e redes sociais hostis criaram um clima tóxico. Se os torcedores demonstrarem que valorizam a disciplina e os resultados — e não apenas o estilo emocional —, podem ajudar a convencer Ferreira de que o Brasil ainda é um lugar onde ele se sente respeitado. A glória não se constrói só com gols, mas com reconhecimento.